De onde vem o senso japonês de estética?
É sabido que os japoneses têm um senso estético muito apurado. Isso é visto em tudo, desde arquitetura até roupas, comida e arte. Mas o que é menos conhecido é de onde vem esse senso de estética.
O sentido estético do Japão, reflectido nomeadamente na arquitectura, no design e numa indústria da moda que conquistou o mundo inteiro, a única na Ásia, é profundamente influenciado pelo ramo do Zen Budismo importado da China no final do século XIX. XIIe século. Para além da dimensão religiosa e espiritual, cujo objetivo é atingir o estado de iluminação através da concentração no momento presente, do desapego e da meditação, o Zen influenciou profundamente a estética japonesa. Os templos Zen são caracterizados pela sua simplicidade e simplicidade. A caligrafia limpa pode servir de suporte para a meditação.
Os conceitos de wabi (exemplo) E sabi (寂び), que designam a beleza de coisas desgastadas, imperfeitas e impermanentes, como o musgo no telhado de um templo de palha, uma parede de sabugo sem pintura ou a forma natural e bruta remanescente de um pilar, são diretamente derivadas do cultura japonesa Zen e ainda constituem valores estéticos importantes na criação contemporânea. Da mesma forma, a noção de vazio que encontramos na pintura, inspirada na pintura taoísta chinesa, e na arquitetura.
O conceito de dois (粋), surgido durante a dinastia Edo, completa este apurado sentido estético do Zen. Às vezes traduzido como “refinamento” ou “classe”, dois pretende ser uma atitude inconformista, oposta à moralidade confucionista tradicional, e uma estética marcada pela discrição e originalidade. EU'dois se expressa na ausência de acabamentos visíveis ou na sutileza de cores e estampas encontradas nos tecidos e na criação da moda contemporânea.
Contudo, se este sentido estético ainda está muito presente no Japão de hoje, e é parte integrante do poder de sedução do arquipélago, não representa todo o Japão. Já na era Edo, a estética dois foi também uma resposta às regras suntuárias impostas pelo xogunato aos comerciantes, que não podiam usar tecidos preciosos ou cores brilhantes. Desde os tempos mais antigos, a cultura popular, a do campo ou da cidade baixa de Edo, exprimia-se em práticas muito menos refinadas que encontramos nas festas de aldeia e bairro, nas danças, nos jogos e nas máscaras que os acompanham.
Por fim, apesar da valorização da estética e da simplicidade Zen, estas práticas não são as da vida quotidiana no Japão. Pelo contrário, a emergência de uma sociedade de hiperconsumo e acumulação, sobretudo a partir do final da década de 1960, resultou em interiores desordenados e no aparecimento de novos gurus responsáveis por aprender a esvaziar para encontrar uma pureza original que provavelmente nunca existiu.1.
1. Uma das mais conhecidas no exterior, que fez dela uma verdadeira indústria exportadora, é Marie Kondo.