O Japão era uma potência colonial diferente das outras?
Costuma-se dizer que o Japão é uma potência colonial diferente, que não explora nem oprime as pessoas que coloniza da mesma forma que outros países europeus. Alguns argumentam que o Japão trouxe progresso e modernização às colónias, enquanto outros afirmam que as ações do Japão foram sempre motivadas pela ganância e pelo interesse próprio.
La Restauração Meiji, no fim de XIXe século, marcou a entrada do Japão na modernidade seguindo o modelo das grandes potências ocidentais. Tal como este último, e por razões semelhantes de interesses estratégicos e económicos, desejo de expansão e afirmação de poder, o Japão adquiriu colónias. O fenómeno colonial no Japão é uma exceção para um país asiático nos tempos modernos, mas não está ligado ao militarismo que se desenvolverá mais tarde, e ocorre ao mesmo tempo que a expansão colonial ocidental1. Resulta da integração do arquipélago, nos últimos anos do XIXe século, ao “grande jogo” entre Estados-nação2.
Em 1895, o Tratado de Shimonoseki, encerrando, com a derrota do Império Qing, a primeira Guerra Sino-Japonesa de 1894-1895, colocou a ilha de Taiwan sob controle japonês, que se tornaria a primeira colônia japonesa, até 1945. a colonização da península coreana será mais dramática. Em 1895, o Japão conseguiu que o Reino da Coreia (Dinastia Choson) rompesse os seus laços tributários com o Império Qing, abrindo caminho para a sua própria influência.
Em 1905, o estabelecimento de um protectorado na península, a que se seguiria uma anexação total em 1910, respondeu ao avanço das tropas russas, numa rivalidade entre duas grandes potências num terceiro território. A Guerra Russo-Japonesa, também vencida por Tóquio para grande surpresa das potências ocidentais, teve como objetivo limitar este avanço da Rússia sobre territórios considerados estrategicamente importantes pelo Japão. A vitória sobre a Rússia em 1905 também trouxe a parte sul da Ilha Sakhalin para o Japão.
Taiwan e a Coreia serão, portanto, as duas principais colónias do Japão. No Pacífico, este último – que fez parte do campo aliado durante a Primeira Guerra Mundial – obteve um mandato da Liga das Nações (SDN) sobre a Micronésia em 1918. Finalmente, de uma forma diferente, o Japão exerceu um controlo efectivo sobre a Manchúria, onde a sua influência se desenvolveu desde 1904, com a criação do Estado de Manchukuo em 1932. Em 1945, o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota do Japão coincidiram com a descolonização de todas as possessões japonesas
Longe de ser uma excepção, a experiência colonial japonesa foi, na realidade, consistente com o modelo ocidental de dominação estabelecido na segunda metade do séc. XIXe século. Na Ásia, esta experiência deixou um legado complexo. Em Taiwan, a contribuição do Japão opõe-se frequentemente favoravelmente à falta de desenvolvimento e aos abusos cometidos pela China continental. A Manchúria apresenta um modelo de industrialização do qual aproveitará o regime comunista em vigor desde 19493. O mesmo não acontecerá na Coreia, onde a administração japonesa será mais brutal no seu desejo de destruição sistemática da identidade coreana. Nos três casos, contudo, o objectivo de assimilar as populações locais no império japonês distingue o modelo japonês dos modelos ocidentais de exclusão baseados na raça. Na Coreia, a par da imigração de trabalhadores coreanos, voluntária ou forçada, foi importante a cooperação das elites, através do acesso ao ensino superior em universidades japonesas ou escolas militares.
No entanto, a experiência colonial, confundida com a do militarismo, continua a pesar nas relações de Tóquio com as suas ex-colónias, num sentido mais positivo com Taiwan, que depende deste passado para construir uma identidade autónoma, e mais difícil com a Coreia do Sul, ondehistória da colonização também alimenta as rivalidades políticas contemporâneas.
O caso da Coreia do Norte ainda é diferente devido à particularidade do regime de Pyongyang que coloca menos ênfase na humilhação contra o Japão e, em vez disso, insiste na vitória militar contra o ocupante.
1. Desde a dinastia Han, o império chinês também se expandiu, tentando impor o seu controlo em áreas não chinesas, desde o norte do Vietname até à Coreia, incluindo o Tibete, o Turquestão Oriental e a Mongólia.
2. Arnaud Nanta, Laurent Nespoulous, “Japão e o fato colonial, Nordeste da Ásia colonial (1880-1920)”, cipangono 18, 2011.
3. Michel Vié, “Manchúria e a Questão do Extremo Oriente (1880-1910)”, cipangono 18, 2011.