Líderes do Japão e do Brasil devem impulsionar laços estratégicos sob novo plano quinquenal
O Japão e o Brasil adotaram um plano de ação de cinco anos na quarta-feira para fortalecer sua parceria estratégica em meio aos crescentes riscos geopolíticos e tensões comerciais.
O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, concordaram em sua reunião em Tóquio em organizar visitas recíprocas a cada dois anos e lançar uma nova estrutura consultiva para altos funcionários discutirem questões diplomáticas e relacionadas à defesa.
O Japão recebeu Lula como seu primeiro convidado de Estado em seis anos, enfatizando a importância do Brasil como um parceiro que compartilha valores fundamentais como a democracia e o Estado de Direito, bem como a necessidade de cooperação multilateral em um mundo cada vez mais dividido.
Os dois líderes concordaram em promover o diálogo para garantir a paz e a cooperação internacional em seus esforços para abordar o que eles descreveram como "o enfraquecimento do sistema multilateral".
O convidado de Estado anterior do Japão foi o presidente dos EUA, Donald Trump, durante seu primeiro mandato em 2019. Seu retorno à Casa Branca no início deste ano representou desafios ao livre comércio ao impor tarifas e esforços globais para lidar com as mudanças climáticas.
"Espero fortalecer ainda mais nossas relações com o Brasil com base no plano de ação que abrange uma ampla gama de áreas, como diplomacia, segurança, comércio, investimentos e mudanças climáticas", disse Ishiba durante uma reunião com Lula.
"A cooperação bilateral com o Brasil é essencial para conduzir o mundo atolado em confrontos e divisões à cooperação global", disse ele.
Este ano marca o 130º aniversário das relações diplomáticas entre o Japão e o Brasil. O Brasil é um ator-chave no Sul Global e membro do grupo BRICS de potências emergentes, que também inclui China e Rússia.
Os Estados Unidos são um importante parceiro comercial tanto para o Japão quanto para o Brasil.
Apesar do atrito causado por sua história e questões territoriais, o Japão considera a China um vizinho importante com laços econômicos estreitos, enquanto o Brasil equilibrou suas relações com os Estados Unidos, China e Rússia.
Ishiba e Lula discutiram a situação na Ucrânia, Oriente Médio e Leste Asiático. O primeiro-ministro foi citado pelo governo japonês dizendo durante a cúpula que "tentativas unilaterais de mudar o status quo pela força ou coerção não devem ser toleradas em nenhum lugar do mundo".
O Brasil é um grande exportador de produtos agrícolas e minerais, como minério de ferro, para o Japão, país com escassez de recursos, que exporta principalmente produtos industriais, incluindo peças automotivas, para o país sul-americano.
Antes de sua visita, o gabinete de Lula disse que o presidente pediria ao Japão que abrisse seus mercados de carne bovina, já que Tóquio tinha restrições severas devido a preocupações com doenças aftosas.
Em um próximo passo para abrir as portas do Japão para a carne bovina brasileira, o Japão em breve enviará especialistas técnicos para conduzir inspeções no local no Brasil, de acordo com os dois governos.
Ishiba disse que concordou com Lula em aprofundar a cooperação entre o Japão e o bloco comercial sul-americano Mercosul, que também inclui Argentina, Paraguai e Uruguai.
A cooperação energética também estava na pauta, já que o Brasil, que obtém a maior parte de sua energia de fontes renováveis, deve sediar as negociações climáticas da ONU em novembro. A COP30 acontece depois que Trump anunciou que retiraria novamente os Estados Unidos do acordo climático de Paris, que visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Japão e Brasil enfatizaram a necessidade de "implementação plena e efetiva" do Acordo de Paris.
Lula deve concluir sua visita de quatro dias ao Japão na quinta-feira, após uma audiência que ele e a primeira-dama Janja Lula da Silva tiveram com o imperador Naruhito e a imperatriz Masako na terça-feira.