A culinária com coelho gigante de Akita está ameaçada devido ao envelhecimento dos fornecedores e à mudança de gostos.

A culinária com coelho gigante de Akita está ameaçada devido ao envelhecimento dos fornecedores e à mudança de gostos.

AKITA, Japão – Pelagem branca como a neve, olhos vermelho-rubi e um sabor que faz parte da paisagem culinária da província de Akita, no norte do Japão, há gerações.

O coelho gigante, uma raça local criada para alimentação, é ao mesmo tempo uma iguaria regional e uma referência cultural, mas sua sobrevivência está agora em risco.

Durante décadas, a raça tem sido um elemento básico das refeições festivas, particularmente durante as celebrações de Ano Novo, com sua carne macia e saborosa sendo amplamente consumida.

Embora pratos com coelho sejam comuns no exterior, o Japão possui poucas raças domésticas criadas especificamente para consumo, o que torna o coelho gigante Akita ainda mais valioso.

Mas a mudança nos hábitos alimentares e a diminuição do número de produtores estão colocando essa tradição em risco.

"Tem um sabor peculiar que complementa a culinária japonesa. Parece ser um ingrediente que vale a pena explorar em diversos pratos", disse Ryo Ito, dono de um restaurante em Tóquio, depois de experimentar o ensopado de coelho pela primeira vez em Daisen, na região central da província de Akita, em agosto.

A carne tem uma textura macia, que lembra o famoso frango hinai jidori de Akita, mas com um sabor mais rico e gorduroso. Além dos ensopados à base de missô, os pratos grelhados e fritos também são populares entre os moradores locais.

A importância da raça foi reconhecida nacionalmente em 2021, quando foi incluída na lista de "alimentos centenários" da Agência de Assuntos Culturais, juntamente com outros pratos típicos regionais, como o "kiritanpo" (arroz pilado cilíndrico) e o "inaniwa udon" (macarrão trançado à mão).

A história do consumo de coelhos em Akita remonta à era Meiji. Registros históricos de Daisen, um dos principais centros de produção de coelhos, indicam que aproximadamente 17.000 coelhos foram produzidos em toda a prefeitura em 1926.

No entanto, os números diminuíram devido à diversificação das preferências alimentares e, durante o ano fiscal de 2024, restavam apenas seis produtores em Daisen, que criavam coletivamente apenas cerca de 200 coelhos.

As autoridades locais reconheceram que a preservação do coelho gigante exige mais do que a reprodução: requer envolvimento público e promoção cultural.

Desde 1988, Daisen sedia o Festival Nacional do Coelho Gigante todos os outonos, atraindo quase 10.000 visitantes. O evento inclui competições que exibem coelhos de toda a província de Akita e de outros lugares, jogos e diversas outras atividades.

A cidade também está desenvolvendo uma nova raça especializada, a Nakasen Getsuyo, alimentada com polpa de perila, que se acredita oferecer benefícios para a saúde e beleza de quem a consome. Esses esforços visam garantir a sobrevivência da raça e reavivar o interesse pelo consumo de coelhos.

Apesar dessas iniciativas, o festival não escapou das críticas.

Grupos de defesa dos direitos dos animais classificaram o consumo de carne de coelho como "bárbaro" e pediram o cancelamento dos eventos.

Para Akio Sato, de 84 anos, criador de coelhos há quase cinco décadas, essas críticas são surpreendentes.

"Coelhos gigantes convivem com esta comunidade há gerações. Quero que as pessoas entendam a história deles (e não os vejam apenas como alimento)", disse Sato.

O apelo da raça também atraiu jovens empreendedores. Tatsumi Muto, de 28 anos, originário de Hokkaido, descobriu os coelhos gigantes enquanto estudava na universidade e mudou-se para a cidade de Akita há cerca de quatro anos para iniciar sua própria criação.

A Muto tem como objetivo não apenas exportar carne de coelho, mas também processar a pele e desenvolver produtos utilizando os ossos, criando um modelo sustentável que respeita tanto a tradição quanto a inovação.

“Se as coisas continuarem assim, o coelho gigante — criado exclusivamente em Akita — poderá desaparecer”, disse Muto. “Quero que as pessoas descubram o quão deliciosa é a carne de coelho e espero que isso possa ajudar a difundir a cultura culinária de Akita para além da província.”

Para o povo de Akita, o coelho gigante é mais do que apenas um ingrediente. É uma ligação viva com a história da região, um testemunho da engenhosidade culinária local e um símbolo de resiliência diante das pressões modernas.

Com festivais contínuos, agricultores dedicados e reconhecimento nacional, há esperança de que esta raça única – e as tradições que ela representa – sobrevivam por gerações.