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O fabricante de jeans de contagem completa incorpora o artesanato e o valor do denim japonês

Quando Mikiharu Tsujita lançou uma contagem regressiva abrangente em 1992, ele o fez com uma ambição singular, quase romântica: recriar os jeans que ele mais reverenciava — os Levi's 501 das décadas de 40 e 50, a base da história do jeans azul.

Esses jeans tinham um toque áspero, nunca eram pré-encolhidos, ficavam visivelmente torcidos após a lavagem e eram tecidos com fios irregulares que desbotavam em padrões irregulares, mas cativantes, com o tempo.

Mais de três décadas depois, o fabricante de jeans de Osaka conquistou seu próprio nicho na indústria de vestuário.

Tsujita, 58, presidente titular da contagem, disse que o apelo duradouro do jeans japonês como um todo se baseia em dois pilares: "tecidos que só podem ser feitos no Japão" e "um senso de beleza que os próprios japoneses descobriram".

De fato, no mundo da moda, o jeans pode ter nascido na América, mas sua alma encontrou um segundo lar no Japão.

O que distingue o jeans japonês não é apenas o tecido robusto tecido em teares vintage, mas também uma sensibilidade estética profundamente enraizada, que acolhe a imperfeição, valoriza a passagem do tempo e transforma o desbotamento e o desfiamento em beleza.

Há muito apreciado pelas grifes europeias de alta-costura por sua textura e profundidade, o jeans japonês continua a conquistar respeito global. A tração é tão forte que até marcas com pouco reconhecimento foram acolhidas pela gigante francesa de luxo LVMH.

Embora potências do jeans como Estados Unidos e Itália continuem influentes, é o Japão que inspira um público internacional renomado.

O que levanta a questão: em um mercado tão competitivo, qual é o segredo por trás do apelo singular da indumentária japonesa?

Mantendo os negócios em andamento

Quando Tsujita decidiu imitar os jeans Levi's, ele descobriu que a empresa sediada em São Francisco não usava mais os mesmos métodos de fabricação do passado.

Na década de 1960, a Levi's abandonou o tradicional sistema de lançadeira em favor de máquinas mais rápidas e eficientes, sem lançadeira, tornando esses tecidos idiossincráticos quase impossíveis de produzir.

“As máquinas antigas foram abandonadas”, lembra Tsujita.

Sua busca o levou a Okayama na década de 1990, onde ele descobriu o que tanto desejava: uma fábrica têxtil local ainda apegada a teares mecânicos antigos.

Essas lançadeiras tradicionais são projetadas para tecer tecidos densos, como jeans, e fazem barulho enquanto trabalham, produzindo pequenas irregularidades e uma textura sutilmente irregular.

Essa falta de uniformidade – combinada com a tensão característica da trama – dá ao jeans japonês seu caráter característico, permitindo que o tingimento índigo desbote em padrões ricos e complexos ao longo do tempo.

Mesmo em Okayama, no entanto, a empresa se preparava para abandonar as máquinas antigas em favor de teares sem lançadeira, mais rápidos e eficientes. Tsujita fez seu apelo: "Mantenha os teares funcionando. Nós o apoiaremos comprando o tecido."

Convencida, a empresa aceitou.

A partir daí, mestres artesãos, guiados pelas mãos e pelos olhos, extraíam texturas e irregularidades do tecido de teares de algodão vintage que nenhum outro país conseguia reproduzir. Com o tempo, essas qualidades distintivas ganharam reconhecimento internacional.

Tsujita também credita ao Japão a redefinição do próprio significado do jeans. Onde outros viam falhas — falhas, torções, irregularidades —, os japoneses reconheciam a beleza. Essa sensibilidade se espalhou pelo mundo, transformando a forma como o jeans era valorizado e usado.

“Dar forma à ideia de que a passagem do tempo em si agrega valor é a concretização da diligência japonesa e de um espírito inabalável de investigação”, disse Tsujita.

Sucesso difícil

A Full Count construiu seu negócio com base nessa herança de artesanato e em um senso de exclusividade. Em vez de perseguir campanhas de vendas, a marca aprimora seus tecidos e designs, mantendo seus clássicos vivos.

A empresa se aventurou em colaborações com nomes de vanguarda como Fumito Ganryu — cuja marca é conhecida por fundir alfaiataria elegante e moderna com elementos de streetwear — mas os valores essenciais da empresa permanecem firmemente intactos.

Cerca de 80% das vendas ainda vêm de calças jeans básicas, jaquetas, camisas e camisetas. Em um setor onde lançar novos produtos a cada seis meses e reduzir as sobras é prática padrão, a abordagem de contagem total se destaca.

"Estabelecer esse sistema quase rotineiro fez toda a diferença", disse Tsujita, orgulhoso. "As vendas aumentaram cerca de 140% ano após ano e, antes que percebêssemos, a empresa havia atingido a marca de US$ 3 bilhões (US$ 20 milhões)."

Os raros jeans vintage "autênticos" de Tsujita, outrora idolatrados, agora alcançam milhões de ienes o par quando bem conservados. Pode-se presumir que o mercado vintage em expansão impulsionou seus negócios, mas Tsujita descarta a sugestão.

"Essas peças são tão raras que os verdadeiros entusiastas já sabem exatamente quem possui o quê", disse ele. "É um círculo fechado de poucos colecionadores e não tem quase nada a ver com a nossa profissão."

Em comparação, os jeans completos do Conde — normalmente com preços entre 30.000 e 50.000 ienes — são vendidos em cerca de 70 lojas no Japão e outras 250 no exterior.

Esse sucesso foi conquistado com muito esforço. A marca se aventurou pela primeira vez no exterior por volta de 1997, quando a reputação do jeans japonês era restrita a um pequeno grupo de profissionais do setor. Algumas peças notáveis ​​chegaram a prestigiosas butiques europeias, mas não conseguiram se consolidar.

Após repetidas tentativas e erros, Tsujita percebeu: “A menos que você transfira a cultura, ela não criará raízes”.

Dessa forma, a contagem completa criou sua própria identidade, posicionando-se entre estilos como Preppy e Streetwear, em vez de se alinhar estritamente ao American Casual.

Assim como as recém-chegadas de Okayama, Samurai Jeans e Momotaro Jeans — revestidas com seus tecidos ultrapesados ​​— a Began atraiu atenção global, inclusive em quantidade total, e também desenvolveu uma reputação como a maison de jeans estabelecida no Japão.

A estrada não foi isenta de conflitos. Tsujita revelou que sua empresa havia enfrentado pressão legal em diversas ocasiões, vinda de ninguém menos que a Levi's — a empresa que ele adorava.

As disputas giravam em torno de detalhes da marca: as icônicas costuras arqueadas da Levi's, o arco duplo curvo nos bolsos traseiros e a famosa aba vermelha costurada na costura. Mesmo assim, Tsujita permanece desafiador.

"Nunca pagamos um acordo e nunca perdemos um caso", disse ele.

Desde 2019, a contagem total abandonou completamente esses elementos contestados, adotando uma simplicidade despojada.

Enquanto isso, a própria indústria está mudando. Em 2023, a venerável fabricante têxtil de Okayama, Kuroki, firmou uma parceria com a Métiers d'Art, parte da gigante do luxo LVMH. Tsujita encara a mudança com ambivalência.

"É decepcionante que tenha sido o capital estrangeiro, e não os investidores japoneses, que reconheceu e investiu no valor do jeans japonês", disse ele.

"Mas o valor do jeans japonês já está se tornando uma linguagem compartilhada no mundo da moda global. As oportunidades de investimento e aquisição no exterior só aumentarão", previu ele.

Nos horários de pico, acrescentou Tsujita, propostas de aquisição chegam à sua mesa várias vezes por mês.

Tsujita fará 59 anos em novembro. Quando questionado sobre o futuro, ele refletiu.

“Ao me aproximar dos 60, talvez eu tenha que pensar em passar o bastão agora que a estrutura do negócio está firmemente estabelecida”, disse ele. “O jeans japonês tem um valor incomparável no mundo – e é por isso que quero garantir que ele seja preservado para a próxima geração.”