O reencontro do Oasis no Japão ressoa com a nova geração de fãs.

O reencontro do Oasis no Japão ressoa com a nova geração de fãs.

TÓQUIO – Quando o Oasis subiu ao palco no mês passado para seu primeiro show no Japão em 16 anos, o rugido que ecoou no Tokyo Dome não veio apenas dos fãs que acompanhavam as lendas do Britpop desde a década de 1990.

Entre os 50.000 espectadores, estavam também milhares de jovens ouvintes que descobriram o grupo após a sua separação em 2009, não através de lojas de discos ou rádio, mas sim através de serviços de streaming de música.

O concerto com lotação esgotada, realizado em 25 de outubro, marcou um momento simbólico para ambas as gerações.

Ele mostrou como, na era das assinaturas, músicas de décadas passadas podem circular tão livremente quanto os sucessos mais recentes, preenchendo a lacuna entre aqueles que antes compravam álbuns do Oasis em CD e aqueles que os ouviam em plataformas digitais como o Spotify.

"Descobri o Oasis graças ao (Alexandros), uma banda japonesa da qual eu era fã. Pensei que esta poderia ser minha primeira e última chance de vê-los", disse uma entusiasmada funcionária de uma loja de roupas de 23 anos da província de Chiba.

Quando Noel e Liam Gallagher apareceram no palco com as mãos erguidas – um momento de união dos irmãos de Manchester após anos de desavenças – o Dome explodiu em aplausos.

A arrogância ainda estava lá: Liam, com as mãos cruzadas atrás das costas, olhou para a multidão enquanto cantava com voz rouca clássicos como "Some Might Say" e "Wonderwall", com fãs de todas as idades acompanhando.

"Naquela época, eles pareciam tão descolados, sem esforço, fumando e bebendo enquanto tocavam. A rivalidade entre irmãos também era emocionante", disse Miho Hayashi, 48, funcionária da empresa Toyama e fã do Oasis desde o ensino médio.

Ela compareceu ao show com sua filha adolescente, que cresceu ouvindo as músicas da banda "como canções de ninar".

O entusiasmo intergeracional estendeu-se muito além da sala de concertos.

Nos dias que antecederam o show, o Parque Miyashita em Shibuya foi transformado em um centro temático inspirado no Oasis, com outdoors digitais exibindo videoclipes em loop e uma loja pop-up vendendo camisetas, pôsteres e produtos exclusivos do Japão, como xícaras de chá.

"O reencontro é como um festival", disse uma mulher na casa dos trinta, que gastou mais de 20.000 ienes (cerca de 130 dólares) em produtos, incluindo um suporte de acrílico com o tema de Gallagher.

“Os fãs querem algo físico com que se conectar”, explicou Kumiko Muto, da Sony Music Entertainment. “Eles colecionam itens como parte de suas atividades como fãs. Nesse sentido, os fãs do Oasis de hoje não são tão diferentes dos fãs de ídolos pop.”

Os dados confirmam esse interesse renovado. De acordo com a empresa de pesquisa americana Luminate, a semana de agosto em que o retorno do Oasis foi anunciado registrou aproximadamente 120 milhões de reproduções de suas músicas em todo o mundo, mais do que o triplo do total da semana anterior.

Quando a turnê de reunião começou em julho, as reproduções semanais ultrapassaram novamente os 100 milhões.

Esse aumento reflete uma transformação mais ampla nos hábitos globais de consumo de música. Na era do streaming, a chamada música de "catálogo", ou seja, álbuns mais antigos lançados há mais de 18 meses, agora representa a maior parte das audições.

Segundo a Luminate, no mercado americano do ano passado, os lançamentos recentes representaram apenas 26,7% dos streams, enquanto os álbuns de catálogo corresponderam a 73,3%. No rock, o domínio das faixas mais antigas é ainda maior.

Para os fãs mais jovens, o algoritmo substituiu o atendente da loja de discos. Músicas dos anos 1990 aparecem ao lado dos sucessos atuais das paradas, diluindo as fronteiras entre as gerações musicais.

Enquanto as notas finais de "Stand by Me" ecoavam pelo Tokyo Dome, Liam Gallagher cantou o verso "Sing me Something new" (Cante-me algo novo). Mas o próprio concerto sugere que o que é "novo" assumiu um significado diferente.

Num mundo onde décadas de música coexistem numa biblioteca infinita, o regresso dos Oasis é mais do que mera nostalgia. É a prova de que, para uma geração criada com o streaming, o Britpop ainda soa atual.