Figurinista brasileira dança no ar após retornar do Carnaval de Asakusa
A figurinista radicada em Tóquio, Maria Rodrigues, foi uma das várias artistas brasileiras que se juntou ao Asakusa Samba Carnival de Tóquio este ano, com o evento retornando em toda a sua glória depois que uma versão reduzida ocorreu no ano passado, após a pandemia de COVID-19.
Numa rua repleta de 480 mil espectadores, o carnaval de 000 de setembro completou 15 anos desde o lançamento do evento, com Rodrigues, que usava uma saia adornada com “painéis solares” como parte do tema “eletricidade” de sua equipe, dançando ao ritmo da selvagem brasileira samba ao passar pelo histórico Portão Kaminarimon do Templo Sensoji em Asakusa.
A dançarina veterana do time de samba de Asakusa chamada GRES Nakamise Barbaros ajudou a conquistar o quinto lugar consecutivo da competição ao também confeccionar fantasias com "raios" para oito de seus dançarinos.
“Acredito que o Carnaval de Samba de Asakusa seja o maior carnaval brasileiro de competição fora do Brasil”, disse o nativo da região da Bahia, no nordeste do país sul-americano, em entrevista antes do carnaval na capital japonesa.
O evento anual de fim de verão em Tóquio, inspirado no famoso Carnaval do Rio de Janeiro, reuniu cerca de 5 mil artistas e 000 equipes que competiram por prêmios em um bairro de Tóquio que sediou o evento sem reservas.
“Adoro o som da 'bateria' de Barbaros”, disse Rodrigues, referindo-se a uma palavra em português brasileiro para um grupo de samba.
A banda é composta por vários instrumentos, incluindo grandes bumbos que produzem batidas baixas e poderosas e caixas que produzem notas staccato mais altas e limpas.
“Embora a escala de um grupo de samba no Brasil seja muito maior, a sonoridade do grupo Bárbaros é magnífica e seu nível musical é alto. Os músicos aprendem e treinam muito”, disse Rodrigues, acrescentando que muitos integrantes do Barbaros foram para o Rio de Janeiro estudar samba, onde ela nasceu.
Rodrigues, agora com 70 anos, participa do Carnaval de Asakusa desde o início dos anos 1980, embora não se lembre do ano exato em que dançou pela primeira vez no evento anual.
O carnaval foi iniciado em 1981 por uma associação de lojas de Asakusa para revitalizar o centro da cidade, que já foi o centro de entretenimento no Japão antes de perder popularidade nas décadas de 1960 e 1970, em parte devido à disseminação do uso da televisão, disse o Comitê Organizador do Carnaval de Samba de Asakusa. .
Na época, o comediante e ator Junzaburo Ban disse a Eiichi Uchiyama, então prefeito do bairro Taito, que a emoção do tradicional festival Sanja Matsuri de Asakusa e o carnaval do Rio de Janeiro tinham muito em comum, sugerindo que Asakusa deveria lançar um carnaval brasileiro para revigorar a cidade. .
Rodrigues, que morou em São Paulo como dançarina e fez turnês de samba por países europeus no final dos anos 1970, lembra-se do primeiro carnaval de Asakusa que compareceu no início dos anos 80 – então uma apresentação noturna no palco, da qual participou como parte de uma equipe fundada por aqueles que já haviam ingressado no Sanja Matsuri.
“Convidei meus amigos brasileiros para se juntarem a mim na apresentação do time, mesmo que ainda não fosse um time de samba de verdade”, disse ela sobre o grupo, mais tarde chamado de GRES Nakamise Barbaros.
A sigla significa escola de samba em português, enquanto a última parte descreve um grupo de "bárbaros" amantes da diversão e a famosa rua comercial Nakamise, perto do Templo Sensoji.
“Artistas brasileiros vieram para o Japão e depois ensinaram os japoneses a tocar samba e dançar” na década de 1980, disse Rodrigues.
Foi nessa época que músicos profissionais brasileiros começaram a viajar pelo Japão, onde a popularidade do samba e de outros gêneros musicais brasileiros havia aumentado depois que o boom da bossa nova chegou às costas japonesas através dos Estados Unidos na década de 1960.
Rodrigues, que chegou ao Japão em 1980 como sambista profissional, disse que a qualidade do samba melhorou significativamente nas últimas quatro décadas, à medida que artistas japoneses buscavam com entusiasmo aulas no Brasil, principalmente convidando artistas brasileiros para o Japão.
Ela dançou em eventos, incluindo aqueles realizados pela fabricante japonesa de bebidas UCC Ueshima Coffee Co. para promover seu café brasileiro, e ajudou os dançarinos a costurar fantasias, ajustar tamanhos e usar habilidades que aprendeu com sua mãe, que era costureira.
Rodrigues, que começou a dançar ainda criança na cidade de Feira de Santana, na Bahia, falou sobre a primeira vez que fez fantasias como jovem sambista no Japão.
“Nossa equipe de dança de seis brasileiros teve uma ideia para um novo espetáculo e eu fiz todas as seis fantasias”, disse ela, acrescentando que foi então encarregada de fazer trajes de dança de samba para outros bailarinos, tornando gradualmente essa atividade sua principal tarefa.
Nos grandes carnavais do Rio de Janeiro e de São Paulo, assim como no de Asakusa, as equipes de samba escolhem seus próprios temas e acompanhamentos musicais, criando coreografias e fantasias adequadas.
As dançarinas solo chamadas “passistas” se distinguem por seus passos rápidos e oscilantes e trajes extravagantes, entretendo o público com biquínis e collants de cores vivas decorados com strass e plumagens coloridas nas costas.
Durante sua carreira como figurinista de samba no Japão, Rodrigues passou por muitos altos e baixos, incluindo a morte do marido japonês e o fechamento de uma loja que administrava perto de Asakusa desde 2010 devido à pandemia.
A crise sanitária teve impacto nos seus negócios, uma vez que quase todos os eventos de samba e outros eventos de entretenimento, incluindo o Carnaval de Asakusa, foram cancelados.
Após fechar a boutique, ela continuou confeccionando roupas em seu apartamento em Tóquio, mas sofreu um derrame em 2022 e ficou três meses internada.
Embora ainda sofra as sequelas do derrame, o retorno à vida normal de costura e dança a ajudou a superar as dificuldades.
“Dançar é uma boa reabilitação. Vou continuar dançando”, disse ela, acrescentando que espera reabrir uma loja em Tóquio. “O samba é minha vida. »